Cavaleiros Solitários

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Cavaleiros Solitários

    Revirar o passado é uma atitude perigosa, bater de frente com tantos sentimentos nos torna um tanto solitário, um caminho cheio de pedras, obstáculos que você acreditava ter contornado. Sentir tudo de novo com a mesma intensidade, sorrir e se desesperar novamente.  Assuntos mal resolvidos voltam à tona, ao centro das atenções, como prova de que precisaremos enfrentá-los algum dia. Não existe, em todo o mundo, um caminho mais perigoso do que aqueles que existem dentro da gente, significam reviver, significam destrancar todos os monstros dos quais fugimos, tirar os próprios medos debaixo da cama.  Eu embarquei  em um desses caminhos, de volta a mim mesma, cai tantas vezes, e mal me lembrava, até reler cada palavra e descobrir no que me tornaram, o tempo passou e me levou com ele, mudei, ate não ser capaz de me reconhecer, e hoje, distante, voltei a sentir.

    Um ser que caminha sozinho, este tem sido meu retrato nos últimos tempos. Um retrato bonito, obscuro, atemporal. Uma imagem que reflete pessoas do mundo todo, encontradas em qualquer época ou ambiente. Cavalheiros solitários, usando uma armadura criada pelo medo, uma espada provida do ressentimento, montadas em um cavalo sem destino certo nascido do desprendimento.

    Tais seres aprenderam a lutar sozinhos, a cair sem se entregar, a erguer-se falsamente. Sorriem de lado, vêem o mundo sem brilho, sempre atentas, sempre a postos, prontas para mais uma batalha, não creem no homem, não são exemplo nem para si mesmas, se julgam, se matam, se entregam. Não há paz, o silencio perturba, não há companhia agradável, não se importam, não esperam nada da vida e nem a vida delas. Apesar de sozinhas, vêem mais longe, sentem com mais intensidade, vivem por ai, perdidas no mundo, procurando por fora, o que só encontraram dentro, uma maneira de serem inteiras.

Tayná Bravin

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